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Pancada em ferro frio

Não adianta pancada, não se molda ferro frio. Para trabalhar o ferro é necessário que ele esteja quente. Sem isso, o metal não se dobra, no máximo quebra, na briga para manter a forma que tem.

Tem certas ações que lembram bater em ferro frio. Não tem sentido, não levam a nada, não consertam o errado, mas mesmo assim, tem quem insista, como se o problema não fosse resolver o problema, mas simplesmente fingir que sim, sem se preocupar com o resultado.

O resultado é problema de quem tem que resolver o problema. Eu só tenho que fazer minha parte e isso, invariavelmente, se enquadra no texto de Monteiro Lobato explicando porque o Jeca Tatu não coloca uma quarta perna nos bancos que constrói. Quarta pena para quê, se assim funciona?

Essa é a grande questão. Para quê ir além do mínimo necessário, ainda que o mínimo não resolva nada? Para quê fazer de outro jeito se a burocracia faz assim faz tempo, tanto faz o resultado?

O resultado não tem a menor importância. Além disso, se fizer bem feito, não precisa refazer, pelo menos num bom espaço de tempo.

Então para quê tirar o pão nosso da boca do próximo? Se estiver mal feito tem que fazer de novo e o próximo será chamado para refazer mal feito aquilo que desde o começo foi mal feito.

É a briga dos funcionários da distribuidora de água com os vazamentos e buracos nas ruas. Para que mexer no cano furado se, tapando o buraco no asfalto, ninguém vê que o vazamento continua solapando o solo, até se transformar numa cratera?

Aí é outra história. Com a cratera aberta, a televisão, o rádio e o jornal mostram o estrago, então tem que arrumar. Mas, pouco tempo depois, começa tudo de novo. O cano vaza, o primeiro buraquinho surge e a história recomeça, mal feito após mal feito, como se sempre tivesse sido assim.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.