O São Paulo e a paz social
Há duas semanas, num jogo em que não deu nenhum chute a gol, o São Paulo perdeu de um a zero da Ponte Preta, que deu dois chutes a gol e converteu um, ou seja, teve 50% de aproveitamento.
Estatisticamente, mais uma vez o São Paulo mostrou sua força e seu desempenho impecável. Ao não chutar a gol nenhuma vez e não marcar nenhum gol, o São Paulo apresentou a incrível média de 100% de aproveitamento, que praticamente se repetiu logo de cara na desclassificação, depois dos dois primeiros jogos da Libertadores.
Num país dilacerado pelas divisões ideológicas, pela vergonha da eleição no Senado, pelas ameaças a favor e contra que permeiam a internet todos os dias, diante do desconhecido que assombra nosso futuro, o São Paulo é a derradeira tábua de salvação, a certeza do já vivido, o último fio de sanidade que nos liga aos sonhos e esperanças que há muito tempo garantem que somos o país do futuro.
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O São Paulo não perde porque não pode ganhar, o São Paulo perde em nome da manutenção do equilíbrio psíquico indispensável ao encontro da vergonha perdida, da dignidade e da confiança perdidas, que nos encheram de assombro no campeonato sub-vinte, onde o Brasil deixou claro, de uma vez por todas, que a máquina de jogar futebol que encantou o mundo no século 20 faz parte da história e está escondida nas brumas do tempo.
A distância histórica também coloca as glórias do São Paulo no começo da década de 1990. É lá que temos que resgatar as forças para resgatar o futebol brasileiro.
Por isso o time perde. Perde no Paulista e nas Libertadores para nos lembrar de outros tempos em que ser feliz era mais fácil.
É feio e triste e sofrido? O são-paulino sabe que é. Mas é indispensável para o encontro com algo maior. Então vale o sacrifício.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.
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