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De manhã cedo

De manhã cedo a vida costuma pegar mais leve. Não sei se é porque estamos acordando e os sonhos servem de para-choque para a vida, não sei se é porque de manhã o dia é mais bonito, só sei que de manhã cedo, numa manhã normal, a vida pega mais leve.

Porque têm as manhãs anormais, quando a ordem natural das coisas não respeita hierarquias, nem dá bola para o que deveria ser. Simplesmente muda tudo e cai feito uma tempestade, com raios e trovões, derrubando árvores para mostrar que quem manda não somos nós.

Mas essa não é a regra. A regra é sair da cama, escovar os dentes, se vestir, tomar o café da manhã mais ou menos de bem com a vida.

É aí que a onça começa a beber água. Na segunda manchete do jornal o humor já não é o mesmo, começamos a tomar partido, ver o cinza e o mais cinza, achar que não é bem assim, que os políticos devem ir pra cadeia, que a Lava Jato é necessária, que o Brasil tem que mudar.

Mas ainda não está tudo perdido. Afinal, notícia de rádio, manchete de jornal, reportagem de TV são reais, mas estão longe, não batem no fígado, não param no primeiro semáforo quebrado, nem na incompetência do marronzinho causando o maior congestionamento porque não consegue fazer uma rua andar, parar, andar de novo, parar de novo e assim sucessivamente, com um mínimo de bom senso, para dosar o tempo de cada lado e permitir ao trânsito fluir.

Não, de manhã cedo é antes de chegar na estação do trem e ver a multidão parada, esperando, porque em algum lugar roubaram os fios e os trens não andam porque estão sem energia. Ainda não entramos no metrô superlotado, nem ficamos com cara de bobo vendo o ônibus não parar no ponto. De manhã cedo, a vida ainda é a possibilidade de tudo dar certo, do dia ser bom. Por isso, de manhã cedo a vida é mais feliz.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.