O silêncio como única resposta
A vida nos coloca diante de situações complicadas, muitas vezes completamente alheias à nossa vontade.
Acontece e pronto. Lá estamos nós, numa tremenda saia justa, sem espaço para fugir ou lugar para esconder.
Não fizemos nada para acontecer, não tivemos qualquer participação na montagem do drama, apenas estamos no lugar errado, na hora errada e somos arrastados para o turbilhão, como se uma correnteza irresistível nos engolisse e nos levasse no ritmo das cachoeiras, pirambeira abaixo.
Vale resgatar o caso do sargento da FAB preso na Espanha com 39 quilos de cocaína. Não tem como ser mais constrangedor, não para o sargento – ele tem que ser preso -, mas para o Brasil.
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Como é que alguém, ainda mais militar, embarca num avião presidencial – de apoio ou não – com 39 quilos de cocaína?
39 quilos de cocaína não são trinta gramas, nem meia dúzia de pacotinhos cheios de pó.
39 quilos são quase duas malas cheias, das de bagagem de avião. É pó para dar com pau.
Será que ninguém viu, ninguém percebeu, ninguém se interessou pelo conteúdo levado a bordo pelo sargento?
Ele já tinha feito outras 29 viagens como comissário de bordo dos aviões presidenciais. E ninguém viu ou percebeu nada. E, num único pouso num aeroporto secundário espanhol, de cara, a polícia encontrou 39 quilos de droga, que não deviam sequer estar muito bem escondidos, tanto que foram rapidamente encontrados.
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É de derrubar leão. De fazer se esconder atrás de qualquer lugar por mais mixo que seja. Não tem o que falar, não tem justificativa. Tem apenas uma enorme frustração aumentando a sensação de vergonha.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.