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Versão e realidade

Faz tempo que os livros de história distribuídos nas escolas pintam os bandeirantes como bandidos terríveis, que, com avassalador poder de fogo, atacavam as pacíficas aldeias indígenas.

Dizem esses autores que os bandeirantes levavam enormes correntes, com as quais traziam os índios aprisionados, em viagens pavorosas, feitas no meio da mata fechada, sob as mais duras condições de sobrevivência.

Mas será que isso seria possível? As bandeiras raramente tinham mais de 300 homens, a maioria índios, no comando intermediário, mamelucos e uns poucos europeus no comando geral.

Elas seguiam a pé pelas matas por onde, na volta, traziam os índios pretensamente aprisionados. Deviam carregar mantimentos, armamentos e o mais necessário para uma longa jornada no sertão. Jornada que não raro durava anos, como é o caso da bandeira de Antonio Raposo Tavares.

Como 300 pessoas poderiam carregar tudo isso nas costas e, ainda por cima, levar correntões para trazer aprisionados mais de 3 mil índios?

Como 300 pessoas, armadas com arcabuzes de mecha, bestas e arcos e flechas, poderiam vencer 3 mil índios armados com equipamento bastante semelhante e, ainda por cima, comandados por padres jesuítas, treinados para serem soldados e com amplo conhecimento bélico?

Não, os índios que vinham para Piratininga, em sua imensa maioria, não vinham aprisionados. Vinham porque desejavam vir. Entre o “paraíso na terra”, onde deveriam viver feito querubins, prometido pelos jesuítas e a dura realidade da terra paulista, os índios invariavelmente preferiam a segunda opção. Por isso os bandeirantes foram tão bem sucedidos. Só quem já viu um arcabuz de mecha imagina que 100 dessas armas, mais cem arcos e cem bestas podem vencer 3 mil arqueiros treinados.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.