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A Rua Ásia

A Rua Ásia seria uma simpática e pacata rua de bairro de classe média, não fosse ser usada como chegada para a Rua Lisboa.

A ironia volta 500 anos no tempo. Era por Lisboa, depois de Vasco da Gama e da queda de Constantinopla, que os produtos do Oriente entravam na Europa.

A Carreira da Ásia foi a mais rica, proveitosa e longa rota da Coroa portugues

a. Através dela durante séculos a frota lusitana abasteceu os armazéns de Lisboa com as especiarias mais raras e mais caras colocadas a disposição da Europa.

Em São Paulo a história se repete na geografia urbana. Com certeza sem querer, a Rua Ásia encontra com a Rua Lisboa, e hoje, joga nela o fluxo que demanda a Avenida Sumaré.

Coisas do acaso, provando que o acaso não existe. Que tudo é uma única sequência, feita de inúmeras coincidências, que se sucedem e se sobrepõem, numa ordem além da nossa compreensão.

A Rua Ásia teria tudo para continuar uma rua arborizada com espatódias, calma e gostosa com seus sobradinhos um ao lado do outro, dando um ar de interior para o pedaço.

Mas o progresso chegou e cobrou seu preço.

A Rua Ásia foi o caminho natural para quem segue em direção ao Parque Antártica, saindo da Vila Madalena.

É acabar o cemitério São Paulo, pegar a esquerda e depois na bifurcação a direita. Já é a Rua Ásia. E ela segue numa curva suave que joga os carros num cruzamento delicado, justamente com a Rua Lisboa, onde motoristas mais neuróticos entram de qualquer jeito, fechando o cruzamento, na melhor prova de que o trânsito é uma fábrica de loucos

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.