3 de abril
Dia três de abril fez quatorze anos que meu pai morreu e cinco anos que minha mãe morreu. Pode parecer estranho, mas os dois faleceram na mesma data, com nove anos de diferença.
Meu pai faleceu em 3 de abril de 2006 e minha mãe, no dia 3 de abril de 2015. E a diferença entre as duas mortes foi de duas horas. Minha mãe morreu duas horas mais cedo do que meu pai.
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Muita gente dirá que foi coincidência, mas eu tenho certeza que não. Ela fez assim de propósito, sua intenção era partir na mesma hora que ele, nove anos depois.
Na semana da morte de minha mãe, seu médico, meu querido amigo Dr. Raffaelli, na segunda feira de noite, me disse que não havia mais nada a fazer e que dificilmente ela passaria de terça-feira.
Veio a terça-feira, passou e ela não morreu. Passou a quarta-feira e ela não morreu. O quadro não poderia ser mais grave, mas ela não morreu.
Começou a dar sinais de que não tinha mais condições de resistir na quinta-feira de noite e acabou falecendo, sem lutar para prosseguir viva, na madrugada de sexta-feira, duas horas antes da hora em que meu pai, nove anos antes, havia falecido.
Conhecendo minha mãe, tenho certeza que a data e a hora da sua morte não foi acaso. Ela queria morrer no mesmo dia e hora em que seu marido havia falecido.
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Eles foram felizes? Vendo as fotografias dos dois ao longo de cinquenta e sete anos de vida juntos, só posso dizer que sim. E este sim fica mais forte quando vejo as fotos das bodas de ouro, os dois abraçados e sorrindo, com minhas irmãs e comigo.
Não eram um casal melado, desses que ficam de mãos dadas o tempo todo. Mas foram grandes companheiros e, mais que tudo, grandes pais.
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