Tanta tudo e os olhos da onça
Tanto Mar, Tanto Mar. E serras cobertas de matas. E outras serras. E outras matas. Tanta Mata, Tanta Mata. E rios e cachoeiras e sonhos arrancados das águas, do fundo da terra, da cicatriz das minas.
Pedras preciosas, esmeraldas, olhos varando a imensidão verde da mata. Tanta Mata, profunda, densa, úmida, escura. Com nascentes escondidas por samambaias e córregos traçando vales, rios moldando cânions e, no meio, uma campina promete o descanso, depois da jornada, depois de abrir a terra, depois de atravessar a mata.
Tanta Mata. Tanta que o horizonte se perde nela, devorado por ela, na imensidão dos dias que se sucedem, sempre, no meio da mata, rodeado pela mata, invadido pela mata, possuído por ela.
Tanta Mata e tanta vontade. Desvendar os rumos, marcar as trilhas, perpetuar os roteiros. Subir, descer, saber sempre o norte e o oeste. E buscar refúgio próximo da água que desce pela encosta, correndo pelas pedras, transparente como a lágrima.
Descobrir os tesouros, abrir a terra, batear os rios, encontrar ouro e pedras preciosas. Experimentar o ouro e as esmeraldas. Sentir na mão o cheiro de terra molhada, de húmus, das entranhas da mata.
Tanta Mata, profunda, misteriosa. Carreiros cruzam com trilhas, confundindo os olhos, nas armadilhas da Iara.
Tanta Mata, feras, aves, sonhos… esperança. E os mistérios da mata. Os segredos da mata. Os olhos verdes da onça.
Paro no alto da serra. Olho pra mata. A imensidão, os vales profundos e as pirambeiras onde as cachoeiras rugem.
Tanta Mata. Tanto faz, meu destino é entrar na mata. Varar a mata. Atraído pelos olhos da onça. Assombrado pelos olhos verdes da onça que me segue de perto. Cada vez mais perto.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.