Sabiás sempre cantaram
Os sabiás sempre cantaram. Muito antes de alguns marronzinhos descobrirem as delícias do apito desembestado, em nome de nada, as aves voavam e cantavam, desde os dias do paraíso.
Todo mundo sabe disso, tanto que, quando se pensa numa ideia parecida com o paraíso na terra, tem sempre canto de pássaros no fundo. Seja “Over the raimbow” ou em “Shangrilá” aves cantando fazem parte do filme. E Hoolywood não mente jamais.
É verdade que eles preferem os rouxinóis aos sabiás, mas todos são aves e cantam, anunciando a madrugada. Um novo dia que chega com novas esperanças em meio a tragédia de uma invasão alienígena, ou a hora de Romeu partir do balcão de Julieta.
Os sabiás, sabendo da herança das aves, sempre fizeram sua parte, e por isso cantam madrugada a fora, anunciando um novo dia nos horizontes do Brasil.
O problema é que alguns sabiás decidiram ser mais sabiás que a média dos sabiás. O resultado é que cada vez mais começam cantar mais cedo, infernizando a noite de quem tem sono leve e acorda com a gritaria sincopada das aves alucinadas, uma querendo cantar mais alto que a outra.
Paciência. Da mesma forma que os índios querem ser vistos como nação, os sabiás querem ser vistos como grandes cantores, com chance de gravar CD pirata e de fazer show pelas estradas da vida.
Pode mais quem chora menos. O negócio é meter a boca no trombone? Tem sabiá a postos. É só perceber que tem audiência. E se for de uma passarinha jeitosa, então melhor ainda. Aí que é hora de sabiá cantar. Como se anunciasse o fim do mundo.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.