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As flores não estão nem aí

 

Se milhares de pessoas já morreram e outros milhares ainda morrerão, elas não estão nem aí. Não é com elas, como não é com as lideranças que deveriam dar o bom exemplo, mas fazem o contrário.

Se o Brasil é o epicentro da pandemia no mundo ou a piada de mau gosto que ajuda líderes quase tão ruins quanto os nossos a justificarem seus fracassos, tanto faz. As flores não estão nem aí.

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Seguem seu ritmo, na certeza de que é isso que a natureza espera delas. Afinal, a função de uma flor é florir. Se abrir para o mundo, mostrar toda a beleza e a poesia que pode haver na rotina da vida.

Se tem mais coisas no universo e nem todas são boas para o ser humano, as flores não têm nada como isso. A elas compete fazer sua parte, enfeitar os galhos em que estão penduradas, não para enfeitá-los, mas para garantir a perpetuação da espécie. O resto é resto. Se o ser humano quer mais e não tem, o problema é dele.

Afinal, somos nós que esperamos demais de quem não tem que dar nada.A dura realidade é esta: as plantas não têm que dar nada, além da cor de suas flores, não porque nós temos importância para elas, mas porque faz parte do ciclo da vida, da mesma forma que a pandemia faz parte do ciclo da morte.

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Algumas paineiras ainda estão floridas, mas os ipês começam a ocupar espaço e a tirar as paineiras do jogo. É assim porque é assim. Tanto faz se uma paineira é mais teimosa, no final, os ipês entrarão com tudo e a sua florada, como acontece todos os anos, será das mais belas da cidade.

Depois virão os ipês amarelos e os ipês brancos e os ipês rosas fechando a sequência. É assim porque é assim. Cada planta tem seu momento e elas não vão perder a vez porque estamos preocupados com outros problemas e não temos tempo para vê-las florir.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

 

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.