A volta dos pernilongos
Durante meses, os pernilongos andaram desaparecidos da vida da cidade. Seu zumbido insuportável e enlouquecedor sumiu dos ouvidos de milhões de paulistanos acostumados com o inferno das noites mal dormidas, ao som da sinfonia “unicafone”, bizum, bizum, bizum. E das picadas que coçam para completar o cenário de tragédia.
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Bizum, bizum, bizum e no final a picada ardida, que logo em seguida começa a coçar, completando o efeito da música assassina para garantir uma noite mal dormida.
Há quem goste de tudo, mas ainda não achei quem goste dos pernilongos e de sua saga de sangue quase infindável, como se Odin ordenasse aos insetos que dessem aos seres humanos a noção exata de sua absoluta insignificância.
Ano após ano, certos meses do ano foram feitos para os pernilongos fazerem a festa. E eles se esbaldam, com as fêmeas sugando sangue e os machos levando a culpa.
Fazia um bom tempo que os pernilongos tinham saído de cena. Obra de governante ou obra do acaso, ninguém nunca saberá com certeza. O fato é que nos últimos anos os pernilongos andavam vasqueiros, apenas um ou outro dando as caras, ou melhor, fazendo bizum nos nossos ouvidos.
Mas o quadro mudou. Difícil dizer se há uma parceria em construção com o objetivo de fazer o máximo de mal com o mínimo de esforço para dobrar a arrogância humana.
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Se sim, a manobra é um sucesso e em breve as diversas forças unidas pelo objetivo comum de nos causar danos estarão comemorando vitória, umas sugando sangue, outras sugando vidas.
A nós, resta chorar, ranger dentes e acender velas para que as autoridades encontrem os xamãs que exorcizem o zumbido assassino.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.