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O troco das jabuticabeiras

 

As jabuticabeiras são espertas, malandras criadas nas matas. Por isso entendem da vida muito mais do que imaginamos. É evidente que elas não se conformaram com o golpe baixo das pitangueiras, que entraram em cena na vez delas.

Cada um é cada um e não tem pandemia, nem meia pandemia que possa alterar a ordem natural do mundo, a rotina da natureza, a entrada em cena de cada figurante, numa coreografia perfeita, desenhada ao longo de milhões de anos, que não pode, nem deve ser alterada, exceto por forças muito poderosas, o que não é o caso de uma pandemia como a do coronavírus, que nem tem efeito sobre o reino vegetal.

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Se os seres humanos estão morrendo, o problema é dos seres humanos. É inadmissível que as pitangueiras se apossem do pânico restrito a eles para mudarem a ordem natural, que determina que entram em cena as jabuticabeiras, depois as amoreiras e só então as pitangueiras.

Não tem cabimento a morte de oitocentos humanos por dia servir de pretexto para as coisas acontecerem como se o universo não tivesse ordem e a natureza não fosse zelosa de suas obrigações.

Agora ficou claro que as jabuticabeiras não se conformaram e esperaram o momento certo de voltarem pro jogo, armadas até os dentes com jabuticabas no ponto, calangos e não calangos, todas doces e irresistíveis, feitas para serem comidas no pé.

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A grande graça das pitangas é que bom, mas bom mesmo é comê-las no pé. Só que jabuticaba boa, mas boa mesmo, também é a comida no pé. As jabuticabeiras sabem disso. Então fizeram de conta que tinham sido enganadas e que não sabiam como reagir. Deixaram as pitangueiras se acharem e só então chegaram com tudo, com os galhos carregados, oferecendo seus frutos por último, porque essa é a lembrança que fica.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.