Que fim levou?
Que fim levou o buraco que havia aqui? Se transformou numa enorme cratera que fez o buraco desaparecer.
Que fim levou a rua que havia aqui? O buraco que se transformou em cratera comeu.
Que fim levou a praça que ficava no final da rua e que nos meses certos tinha flores sempre iguais, ano depois de ano? Derrubaram para cavar um túnel que fez mais buracos e se uniu ao buraco que virou uma cratera e que engoliu a rua que dava na praça, que tinha flores iguais, nos meses certos do ano.
Que fim levou a vida que aproveitava a praça para colocar um pouco de cor em quem passava por ela? Também caiu num buraco e não consegue sair dele, empurrada para baixo, amassada pelas curvas do caminho, pelas crises, pela incompetência, pelo descaso, pelo medo de olhar em volta, de estender a mão, de viver sem medo.
Que fim levou o medo? Caiu num buraco maior ainda e deixou quem tinha medo com mais medo, mas voz para gritar e por o medo pra fora.
Que fim levou tanta coisa que foi e faz tempo não é nem um resto de sonho, escondido na poeira?
Que fim levou a capacidade de acreditar, de fazer cada dia melhor, de lutar, de se emocionar?
Que fim levou o amigo que sumiu faz tempo, engolido pelo mundo?
Que fim levou o tempo que marcava o compasso da descoberta pelo ritmo das coisas belas do mundo?
Que fim levou a capacidade de se indignar, de achar errado e de tentar consertar?
Caiu tudo no sono. Na vontade de não ter vontade e não fazer nada.
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