Santa Cecília, olhai por nós
Santa Cecília, olhai por nós, velai por nós, tende piedade dos nossos ouvidos, diariamente massacrados por alguma coisa que chamam música, mas que lembra mais um instrumento de tortura terrível, dos usados pela inquisição e que serviram de modelo a tantos outros aprimorados pelo homem ao longo do tempo.
Vinicius de Moraes disse uma vez que São Paulo era o túmulo do samba. Se não estava brincando, o que é uma possibilidade, o poeta, na época estava por fora do que acontecia aqui, ou então não ligou o prêmio que ganhou por Orfeu da Conceição com quem o premiou, no quarto centenário da cidade.
É verdade que não tem como comparar o número de grandes sambistas de São Paulo com o número dos compositores cariocas. Mas tivemos Adoniran, Vanzolini, e foi aqui que aconteceram alguns dos momentos mais importantes da música popular brasileira, como os festivais e programas da TV Record. Foram neles que surgiram e ganharam corpo gente como Elis Regina, Chico Buarque, Jair Rodrigues, Vandré, Caetano e Gil, Milton Nascimento e toda uma sequência de músicos da maior qualidade, entre eles Toquinho, o último parceiro de Vinicius.
Foi de São Paulo que saiu a maior de todas as nossas pianistas, Guiomar Novaes. E é aqui que está a melhor orquestra do país, aplaudida de pé nos Estados Unidos, onde música é coisa muito séria.
Por isso, Santa Cecília tende piedade de nós. Padroeira dos músicos faça com que a música brasileira volte a ser o que já foi, não só uma das melhores do mundo, mas alguma coisa que dê prazer ouvir e que seja cantada de verdade, ao contrário do que acontece hoje.
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