A natureza e a cidade
É impressionante como a natureza se adapta aos novos ambientes, às vezes até com enormes vantagens sobre a situação anterior. É o caso das aves na cidade de São Paulo. Quando eu era menino o que mais voava por aqui eram pardais, vindos de Portugal, que estavam acabando com os tico-ticos. É verdade, tinha também andorinhas e sabiás, mas nada que se compare à quantidade e a variedade de aves que voam pelos céus paulistanos, como se estivessem em plena floresta.
Dependendo da região, almas de gato, rolinhas e pombas selvagens fazem a festa nas árvores dos jardins. Pra não falar nos bem-te-vis que continuam, mas agora voando atrás dos gaviões que antes também não eram comuns no meio do concreto.
Com certeza, estas aves todas, incluídos todos os tipos de periquitos e papagaios, têm uma vida muito mais fácil do que seus primos que moram nos campos e florestas.
Ao contrário do que pode parecer, a cidade é amigável e boa para elas. O concreto não as amola e os vãos dos telhados são ninhos muito mais aconchegantes do que os eventuais ocos nos troncos das árvores.
Mas muito mais importante: lá a arrumar comida é cortar um duro danado. Por aqui o lixo é pródigo em manjares sofisticados, muito mais gostosas do que três ou quatro frutinhas arrancadas na marra, ou meia dúzia de mosquitos magros.
Até os mosquitos, em São Paulo, são um manjar. Afinal, aqui eles chupam o sangue gordo de quem mora nas beiras do Pinheiros, o que deixa os pássaros muito contentes.
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