É bom gostar de você

É bom gostar de você. Bom como caminhar no meio de uma mata fechada e escura, onde o sol entra em raios oblíquos que lembram as imagens dos santos ou o caminho mágico que leva ao fim do arco-íris.

É bom como um mergulho num lago de águas geladas num fim de tarde quente de um dia tórrido de verão. Bom como, depois do mergulho, ficar vendo o pôr do sol que se esconde atrás do morro em frente, num horizonte curto que se tinge de vermelho por causa das nuvens de chuva no céu ao fundo.

É bom gostar de você. Bom como sentir a chuva de verão caindo em bagos grandes em cima da gente. Bom como ficar molhado, com o corpo arrepiado, enquanto o calor diminui e a noite, com o céu de novo limpo, se enche de estralas porque a lua é minguante e só surge muito mais tarde.

É bom gostar de você. Bom como ver a lua nascendo no começo da madrugada, fina e afiada como uma cimitarra ameaçando cortar as trevas para tirar do meio delas a possibilidade do sonho se fazer real.

É bom como sentir o sangue das trevas escorrendo no suor do corpo, num ritual de purificação da alma que se funde ao cosmos no instante do amor.

É bom gostar de você. Bom como fazer amor e descobrir cada ponto e cada pelo e cada gesto, e sentir cada toque como se você fosse eu e eu fosse você. Como se carregados pelo instante pudéssemos trocar de corpo para que você sentisse o que eu sinto e eu sentir o que você sente.

É bom gostar de você. Bom como escrever que é bom gostar de você, porque tudo o que está escrito já aconteceu, mas tudo permanentemente se renova e o que parece a mesma coisa de ontem é novo, completamente novo, e traz mistérios que eu não conheço e que você não conhece e que por isso precisam ser desvendados e conhecidos. Novos mistérios que precisam ser descobertos e intensamente vividos.

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