As borboletas e as matas

As borboletas amam as matas. É nelas que elas crescem, aprendem a voar e, depois, um belo dia, deixam a proteção das sombras densas para se aventurarem no ar claro do dia sob o sol, arriscando a vida, na sanha dos pássaros e dos caçadores de borboletas, que as procuram e as escolhem pelas cores mais vivas e pelos desenhos mais complexos.

É belo ver as borboletas deixando as matas. Se entregando ao seu voo manso e delicado, quase levadas pela força do vento, que passa como uma aragem amiga, trazendo cheiros que elas não conhecem e que lhes falam dos campos onde as flores nascem entre arbustos e os horizontes são largos.

É belo ver as borboletas criando coragem para o grande voo de suas vidas. Saírem da proteção do escuro para os riscos da luz. É belo como ver a vida que se multiplica nos meses de primavera, numa festa de cores que se espalha pelo mundo e o faz mais vasto e mais misterioso, como a mata de onde saem as borboletas, com seus segredos e seus cantos escuros, e suas fontes e suas pedras úmidas, por onde escorre a vida, na entrega plena da terra no cio.

Quero desvendar os segredos das borboletas. Descobrir as lembranças que trazem. Se são como os salmões que sempre voltam ao rio onde nasceram, para morrer recriando a vida, em milhões de ovas que mudam a consistência da água e a tornam opaca como leite, densa como a vontade que as fecunda.

É belo pensar nas borboletas e no seu voo para fora das matas. Belo como os salmões subindo os rios, ultrapassando as cachoeiras, fugindo dos ursos, até alcançarem os pequenos córregos onde nasceram e aí morrerem numa festa de vida.

É belo ver as borboletas dançando sobre os campos floridos sem medo da luz que explode como um orgasmo.

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