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O guapuruvu também floriu

Muita gente nunca ouviu falar, mas os guapuruvus são árvores brasileiras e tem papel importante na nossa história. Parte das canoas de um pau só feitas no nosso litoral foi feita com o tronco do guapuruvu, grande e jeitoso para ser trabalhado e ganhar forma de barco.

Então, volte quase 500 anos no tempo e imagine a flotilha tupinambá, comandada por Cunhambebe, cruzando as águas do litoral norte, rumo ao Canal da Bertioga para atacar os portugueses pela retaguarda… Imagine uma dessas expedições aprisionando Hans Staden e levando o artilheiro alemão para sua taba em Caraguatatuba…

As grandes canoas de um pau só rumando para o norte, cruzando as águas costeiras, mais rápidas do que a reação portuguesa, obrigando o alemão a passar uma larga temporada prisioneiro dos índios, sem saber se viveria ou se seria devorado num banquete ritual…

As pirogas eram embarcações ágeis, marinheiras e, nas mãos dos hábeis indígenas, davam conta do mar, em grandes expedições guerreiras ou na pesca da tainha, até hoje uma festa no começo do inverno. Nada como o grande tronco de um guapuruvu, aberto a fogo, para dar forma a uma rápida canoa, avó das usadas pelos caiçaras até hoje.

A cidade de São Paulo não tem muitos guapuruvus e as canoas bandeirantes eram feitas com os troncos de gigantescas perobas.

Mas na Ponte da Cidade Universitária tem um guapuruvu que se destaca, alto e com galharia larga, plantado no canteiro que leva à Marginal.

Ele viu pacientemente as floradas amarelas tomarem a cidade. Ipês, tipuanas, sibipirunas encherem seus espaços, na busca do aplauso pela florada deslumbrante. Até que um dia o guapuruvu achou que estavam abusando dele. Não teve dúvida. Também se cobriu de amarelo para mostrar que árvore de respeito não tem medo das outras, nem quando são muitas.

 

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.