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Falta de comunicação

Tem gente que acha que Deus se ultrapassou quando deu aos homens que tentavam subir aos céus línguas diferentes, que impossibilitou-os de se comunicarem e colocou fim ao sonho da torre de Babel.

O que essas pessoas não perceberam é que Deus foi muito mais sutil e eficiente do que elas pensam.

Ao fazer cada ser humano falar uma língua, Deus não fez mais do que dar um pouco de ordem para uma bagunça muito mais profunda, que ele plantou na origem de cada uma das línguas e que, até hoje, causa estragos sem tamanho.

As línguas, pode-se dizer isso, são a regra, o fácil de entender. O problema não são elas, são as palavras que as compõem e que nunca significam a mesma coisa para duas pessoas, quando não, em situações diferentes, têm significados diferentes para um mesmo indivíduo.

Quantas e quantas vezes uma palavra de elogio é entendida pelo outro como uma ironia, ou um menosprezo? E quantas vezes uma palavra de apoio é vista como uma puxada de tapete?

Quem já não se viu nessa situação? Quem já não ficou desesperado porque quis dizer uma coisa e foi entendido de um jeito completamente diferente, mesmo falando a mesma língua?

O problema é esse: Deus foi muito mais sutil do que se pensa. As diferentes línguas são a parte boa da história da torre de Babel.

Elas servem para diferenciar os diferentes povos, o que é útil porque dá os limites e os parâmetros para relações entre estranhos.

A vingança divina está no sentido dado a cada uma das palavras das diferentes línguas, que, apesar de terem um significado definido no dicionário, no uso do dia a dia, mesmo entre quem se ama, sempre querem dizer o que não querem dizer, porque quem as ouve as interpreta de outro jeito, diferente do jeito pretendido por quem as disse.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.