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A capela do Morumbi

Quem vai pela avenida Giovanni Gronchi, do Palácio para a Marginal, vê, à sua esquerda, um pouco antes de chegar na casa da Fazenda, uma capela em estilo colonial, bem simples.

Uma capela típica de fazenda, o que ela, pela proximidade com a casa da Fazenda do Morumbi, no passado efetivamente foi.
É um retrato vivo de uma outra época, em que a religião tinha peso muito importante na vida das pessoas, fossem livres ou escravos, brancos, índios ou negros.

Desde o seu mais remoto começo, a religião fez parte da história de São Paulo. Tendo sua Câmara Municipal instalada na segunda eleição livre da história das Américas, em 1.532, a vila de Piratininga, origem da São Paulo atual, para onde a Câmara se mudou em 1.560, desde 1.554, era o lado leigo da briga com os jesuítas, fundadores do colégio ao redor do qual a cidade finalmente cresceu.

Mas a vila de São Paulo demorou quase 4 séculos para se transformar numa cidade. Ainda no final do século 19 tinha menos de cem mil habitantes e até o final do século 18 a maioria das casas do centro ficava fechada a maior parte do ano, porque as famílias mais ricas habitavam nas suas fazendas, que então já eram como a fazenda do Morumbi, autossuficientes e sempre dotadas de capela, como a capela que sobreviveu ao lado da avenida Giovanni Gronchi.

No princípio estas capelas particulares eram muito menores, mas foi boa parte delas que deu origem aos bairros da cidade, como a Freguesia do Ó e a Penha de França, que até hoje são famosos por suas igrejas milagrosas, fundadas nos idos dos séculos 17 e 18, como capelas menores, pelos bandeirantes e seus descendentes que eram donos da terra.

A capela próxima da Casa da Fazenda, com suas linhas simples e despojadas, não estivesse ao lado de uma avenida movimentada, seria tema para reflexão de quem passa por lá, correndo feito louco em busca do futuro, para encontrar o seu passado.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.