O peixe suicida
[Crônica do dia 17 de março de 1998]
A Whiteread, a grande regata de volta ao mundo que agora está em São Sebastião é rica em emoções. Emoções que fazem dela uma prova única para os velejadores que se submetem à tortura de se instalarem num barco com pouco conforto e nenhuma privacidade, e emoções para os que acompanham o seu percurso, seguindo a rota dos barcos pelos mares da terra.
Às vezes a adrenalina é tanta que gente menos afeita a uma prova deste calibre acaba perdendo seus referenciais, mesmo não estando engajada em nenhum dos barcos participantes. Foi isto que o Adhemar Altieri e o Plínio Romero puderam constatar, cobrindo a prova para a rádio eldorado, nas águas de São Sebastião.
Estavam os dois num barco, cobrindo a regata, quando um peixe saltou para dentro dele. É incrível, eu sei, mas o peixe realmente saltou para dentro do barco. A primeira reação do Plínio e do Adhemar foi de espanto. Afinal, não é comum peixes saltarem do mar para dentro dos barcos.
Se nem mesmo quando fisgados eles gostam de cooperar, lutando desesperadamente para escapar do anzol e depois para não deixarem as águas, imagine o que pensar de um peixe que salta, sem mais nem menos, por livre e espontânea vontade, para dentro do barco onde você está, cobrindo as emoções da Whiteread.
E foi isto que aconteceu. Com certeza, empolgado com a movimentação nas águas normalmente desabituadas a receberem visitantes tão importantes, o peixe quis ver de perto os veleiros e as pessoas que alteravam tão radicalmente o seu dia a dia. Adrenalizado, pulou no barco, de onde o Plínio, passado o espanto, o retirou, devolvendo-o delicadamente para o mar de onde viera.
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