Aos 96 anos do poeta
Amanhã o poeta Paulo Bomfim completaria 96 anos de idade. Ele partiu faz três anos e, desde então, faz falta para os amigos e para quem acredita que o mundo pode ser um lugar melhor e o Brasil um país onde a poesia e os bons sentimentos têm espaço para florescer.
Se eu pensasse com o coração, sua falta seria mais que uma profunda ausência, mas, pensando friamente, ele saiu de cena na hora certa. A pandemia seria uma pancada muito forte na sua compaixão e os desmandos subsequentes o teriam enchido de tristeza.
Paulo Bomfim não aceitava o ruim das pessoas ou o ruim nas pessoas. Ele sempre buscava um lado positivo para falar do próximo, até quando o próximo estava distante.
A morte de mais de seiscentos mil brasileiros o teria horrorizado e sua sensibilidade faria sua vida triste, especialmente vendo o país que ele amava dividido por ódios completamente sem sentido.
Tem gente que vai antes da hora, tem gente que vai depois da hora, tem gente que vai na hora certa para sair de cena. Deus foi amigo do Poeta. Ele saiu no momento certo, quando o feio e o medíocre ainda estavam saindo da toca, quando a vida ainda tinha lugar para a poesia e a beleza e as pessoas não odiavam umas às outras por causa de posições políticas.
Eu não sei o que ele está achando do que rola por aqui, mas com certeza, sentado numa cadeira de balanço no quintal da eternidade, vendo o que acontece no Brasil, ele deve estar preocupado.
Por outro lado, quem já saiu de cena tem outros interesses no dia a dia da eternidade. Lá o Poeta está com seus antepassados que não voltaram do sertão, com a Emmy e o Pupá, com seus amigos que também partiram. Lá ele pode falar de beleza e poesia, bebendo um copo de vinho nos almoços no seu apartamento do outro lado do rio.
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