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O absurdo em duas rodas

[Crônica do dia 9 de fevereiro de 1999]

Logo no início das crônicas, seis anos atrás, eu fiz uma série com um personagem inventado, Joãozinho Bam Bam, que se especializa, levado pelo ódio, em derrubar motoqueiros de suas motos.

Como se vê, o problema é antigo de pelo menos seis anos e, ao longo desse tempo, só tem se agravado.

A falta de respeito e a irresponsabilidade da maioria dos motoqueiros que cortam a cidade que nem imbecis passíveis de internação num asilo de loucos, criaram uma prevenção natural de todos os motoristas contra eles.

Antes, normalmente, a coisa parava no susto. Hoje não, ela vai muito além, invariavelmente com prejuízos para os motoristas e volta e meia com um motoqueiro morto ou ferido.

É um quadro ruim que tende a ficar pior a cada dia que passa.

Um amigo meu, cada vez que toma um susto, por conta de um desses estafermos passando raspando no seu carro, diz que o duro é quando alguém mata um, em vez de ganhar um prêmio do INSS, tem que responder a um processo.

É uma boa medida da raiva que os motoristas sentem e da falta de entendimento possível entre os dois grupos que usam as ruas.

O duro é que CET não faz nada para melhorar o quadro e o desemprego é um fator estimulante do crescimento do número de motos, uma boa porcentagem dirigida por gente sem habilitação, correndo bem na linha que divide as pistas das ruas.

Mas mais duro ainda é que a crítica à CET é vazia. Não há realmente nada que ela possa fazer, exceto ordenar que os marronzinhos parem as motos e peçam a habilitação dos motoqueiros. Mas, mesmo isso, não terá resultados expressivos.

Tem motoqueiro de mais para marronzinho de menos, e, como se não bastasse, os motoqueiros têm o mais solene desprezo pelos agentes da lei.

O jeito é entregar a alma a Deus e ter paciência, porque senão, o corpo, este pode acabar como os retrovisores, chutados na passagem das motos.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.