Já começou
O balé já começou. Ainda não deu a hora, está cedo, mas a coisa já começou. Já matou gente, arrancou ponte, derrubou casa, levou tudo o que muitos tinham.
Teoricamente, a temporada de tempestades de verão acontece no verão. É nessa estação que as chuvas descem com força total sobre o sul e o sudeste brasileiros.
Mas isso é uma informação do passado, aliás, como acontece com todas as estatísticas. Não existe estatística futura, então não dá para saber como vai ser daqui pra frente. O certo, pelo menos empiricamente, é que a festa já começou e quem souber dançar que dance porque ficar parado é atributo de poste.
Só que, dependendo do lugar, dançar não adianta nada. É preciso nadar. A enxurrada passa com a força do mau humor dos deuses caindo sobre os seres humanos. Quando isso acontece, tanto faz, nadar também não adianta, ninguém nada na correnteza desembestada que leva a vida e a morte na mesma toada e que só acaba depois que a ladeira acaba.
Como os americanos gostam de estatísticas, dizem que lá o povo está cada vez mais se instalando em áreas de risco. Eles estão nos copiando. Desde a abolição da escravidão e da volta das guerras do Paraguai e de Canudos que milhões de brasileiros vivem em áreas de risco.
E é desde aqueles tempos que os deslizamentos, desmoronamentos, enxurradas, chuvas fortes etc. cobram seu preço, em vidas e bens.
O Brasil tem uma enorme desigualdade social. Mas, na hora do vamos ver, quando o céu cai nas nossas cabeças, a natureza não faz distinção. Atinge ricos e pobres com a indiferença de quem tá pouco se lixando para quem está morrendo. O duro é que ninguém faz nada para tentar mudar o quadro. Ano a ano a coisa só piora e a conta cresce.
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