Jabuticabas não seguem regras
Você, como eu, imagina que as jabuticabeiras são disciplinadas e seguem regras rígidas, como os exércitos romanos sob o comando de Júlio César. Imagina que elas dançam a mesma música, todas no mesmo compasso, no mesmo ritmo, cantando juntas, enquanto as frutas amadurecem ao mesmo tempo.
Você acha que, porque você acha que deveria ser assim, é assim, só que não é. As jabuticabeiras são árvores com caráter forte, só fazem o que querem, quando querem. O resto, para elas, não tem a menor importância, com exceção dos sabiás, bem-te-vis e outras aves que elas gostam que pousem em seus galhos.
Também não podemos esquecer as abelhas. As jabuticabeiras gostam que as abelhas ataquem suas frutas e furem as cascas das jabuticabas para beber o suco doce e peculiar.
Para quem acha que as jabuticabas chegam ao mesmo tempo, as duas jabuticabeiras da minha casa
chegaram está fazendo um mês e tem outras árvores com fruta verde nos renques presos nos galhos.
Não há sincronização entre elas. Cada uma faz como quer, pouco se lixando se agora seria a época das pitangas. Para elas as pitangas não têm a menor importância, o que vale é o momento em que seus calangos amadurecem.
Acabo de comprovar isso na fazenda da Regina Scavone, que deu um delicioso almoço para a Academia Paulista de Letras. As jabuticabeiras estavam carregadas e as frutas no ponto, mas amadureceram muito depois das frutas das duas árvores da minha casa.
Não sei se é consequência do caos e falta de liderança do mundo ou se sempre foi assim. Cada um por si, numa saudável anarquia da natureza, que acha muito mais divertido não ter um esquema formal.
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