Tempestades de verão
Estamos no verão, então, nada mais lógico do que a cidade ser varrida pelas tempestades de verão que caem regularmente nesta época do ano, causando danos de todos os tipos, pessoais e materiais.
Desde antes da fundação da antiga Vila de Piratininga, antes da fundação de São Paulo, a região das várzeas do Tietê e do Pinheiros era conhecida por inundar nos meses de verão. Não é por outra razão que lei da Câmara Municipal da Vila de São Paulo proibia morar nelas.
Na época, o medo não era das águas que se espraiavam por longas distâncias, mas das doenças, os miasmas, que traziam as epidemias que atacavam e matavam os moradores da vila.
Não tem nada de novo debaixo do sol, ou debaixo das nuvens que cobrem a imensa área do Planalto de Piratininga e abrem suas comportas com a fúria das entidades infernais que saem do fundo da terra em cavalgadas alucinadas, comandadas pelos quatro cavaleiros do Apocalipse.
Nos meses de verão, os paulistanos, como milhões de outros brasileiros, pagam suas contas com o destino – tem quem diga que é uma forma de liberar espaço no inferno – e sofrem a tortura cruel das chuvas violentas e das ventanias que mostram que quem manda é a natureza.
Não há nada a fazer contra as forças naturais. Diante delas somos míseros insetos, sem chance de reação diante da fúria dos elementos.
É verdade, poderíamos minorar os estragos se tivéssemos uma política de ocupação do solo do planalto. Mas não temos, ou melhor, ao contrário, nós permitimos a ocupação deliberada de áreas completamente impróprias para moradia do ser humano. E depois, ainda fornecemos o essencial para ele nunca mais sair de lá. Ou mudamos o tratamento do tema, deixando a demagogia de lado, ou continuaremos vendo a morte e a destruição cobrarem seu preço dos mais vulneráveis todos os verões.
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