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A perversidade dos carros velhos

[Crônica do dia 28 de outubro de 1997]

Quem sabe uma das situações mais perversas que afetam direta e indiretamente a cidade grande sejam os carros velhos, incluídos aí, contra vontade do meu amigo Henrique Veltman, os carros antigos.

A primeira restrição ao tráfego destes veículos é a poluição do ar. Com seus motores pensados para outros tempos, quando a questão ambiental não tinha a relevância que tem hoje, mesmo estando absolutamente regulados, o que pode acontecer com os carros antigos, mas que com certeza não acontece com os carros velhos, os índices de fumaça que emitem são muito superiores aos dos carros novos, com motores pensados para poluir pouco e equipados com catalizadores e filtros que praticamente eliminam os gases tóxicos que envenenam a atmosfera.

Se a primeira restrição é cruel com o meio ambiente, a segunda é cruel com os proprietários destes veículos, normalmente gente humilde, que os compra porque é o que o seu dinheiro pode pagar.

Ninguém tem um fusca 71 e meio, com motor de Gordini porque gosta. Como ninguém tem uma Variant 74 ou um Opala que parece mais um Aero-Willys porque quer.

E se estes carros são comercializados com a frequência com que o são é porque o transporte público paulistano, ao contrário do que dizem o governador, o prefeito e seus secretários, é da pior qualidade possível.

Assim, resta aos donos destes carros tê-los e usá-los, dentro de suas poucas possibilidades, até pararem numa alça de acesso a uma ponte, ou numa avenida de tráfego intenso, complicando o trânsito em volta e atormentando toda a cidade.

a questão é delicada. da mesma forma que os carros novos, os carros velhos são usados por quem trabalha e precisa deles para ganhar o pão nosso de cada dia.

Por outro lado, os danos causados à comunidade são imensos. O que fazer? Sinceramente eu não sei a resposta.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.