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A Marquês de São Vicente e as minhas lembranças

[Crônica antiga de 16 de julho de 2009]

Cada vez que passo pela Avenida Marquês de São Vicente confesso que primeiro sinto raiva, depois, me conformo, e finalmente, viajo no tempo para outra época em que o Brasil tinha outra cara, mais pobre, mas mais poética.

O estado da pavimentação é tão ruim, tão esburacado e tem tanta costela de vaca que depois de mentalmente xingar a mãe do encarregado, mais por hábito que por pensar mal dela, me vem invariavelmente, a lembrança de quando era bem mais moço e a ligação entre Louveira e Vinhedo era feita em estrada de terra, pelo “estradão” velho de guerra, esburacado e cheio de costelas de vaca, que faziam os carros da época pularem feito cabritos, ou chacoalharem como vaca correndo.

Era a época dos DKW’s, dos Aero Willis, dos Simca Chambord, das Kombis que ainda estão por aí, dos Fuscas e das Rurais que topavam qualquer parada e para quem a Avenida Marquês de São Vicente seria brincadeira de criança.

O problema é que, pelo menos em teoria, este Brasil não existe mais. Ou não deveria existir, já que até a ligação entre Louveira e Vinhedo foi asfaltada, e os carros de hoje não têm carburador.

Por conta disso, faz tempo, também, que estes veículos deixaram de ser, em teoria, as velhas carroças de 30 ou 40 anos atrás. São mais delicados, sensíveis, mesmo, e por isso, capazes de não aguentar as emoções fortes das vias esburacadas.

Sentir um carro moderno vibrando todo, exigido ao máximo pela buraqueira em volta é um retorno, um redescobrir de lembranças e de detalhes de quando a vida pegava leve e viajar uma gostosa aventura.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.