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O concreto já rachou

Fechamento do viaduto próximo à ponte do Jaguaré traz à tona uma série de problemas em outras estruturas elevadas

Tradicionalmente, o trânsito fica mais caótico em São Paulo com a proximidade do Natal. Mas, com a interdição do viaduto próximo à ponte do Jaguaré e de parte da marginal expressa, sentido Castello Branco, o transtornou se tornou coletivo, o que requer ainda mais paciência. E o que parece um problema local, não é. A cidade carece muito de manutenção e reparos nas suas estruturas elevadas, ou pelo menos em 85% delas. Muitas vezes, nós nem percebemos isso quando passamos por elas.

Quando estamos em nosso trajeto rotineiro, pensando muitas vezes em quais são as nossas tarefas naquele dia, raramente olhamos para o lado, para as pontes e viadutos, a não ser quando estamos em cima de um deles, o trânsito está parado, e sentimos aquele leve balançar, natural dessas estruturas, para evitar rachaduras. Mas, com a interdição do viaduto próximo à ponte do Jaguaré, em novembro, naturalmente, passamos a pensar se não existe o perigo de outras estruturas como esta ruírem.

No caso deste viaduto, o que ocorreu é que parte da sua estrutura cedeu, cerca de dois metros. Porém, não é somente este tipo de dano que pode causar transtornos e até acidentes. Apenas para listar alguns, concretos rachados e esfarelando, estruturas de aço expostas, infiltrações, consertos improvisados e danos por colisões, estão entre eles. O que falta é manutenção!

Para se ter uma ideia, o Sindicato das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva listou, no ano passado, 73 viadutos ou pontes com problemas de manutenção na cidade de São Paulo. Entre eles, apenas 33 foram selecionados pela Prefeitura para serem feitos os devidos reparos, o que ainda demora um pouco, devido ao processo de licitação para contratação de empresas que farão as obras.

Mas não são apenas estes elevados que estão com problemas. Um estudo bem anterior e mais completo, feito pela Prefeitura de São Paulo, em 2012, constatou que nada menos do que 85% dos viadutos, pontes, pontilhões, passarelas e túneis, de um total de 571 inspecionados na época, estavam danificados ou careciam de manutenção. Pensando que se passaram praticamente seis anos, imaginamos que algo tenha sido feito a respeito. Porém, o Programa de Recuperação de Pontes e Viadutos foi suspenso na gestão anterior. Retomado somente no ano passado.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.