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Os mija-mijas intrometidos

As quaresmeiras estão deslumbrantes. Enchem a cidade de cor com suas flores cobrindo as árvores de alto a baixo. Não há canto de São Paulo que não tenha, em algum lugar, tanto faz em que medida, uma quaresmeira que nessa época do ano, faz o favor de se abrir e entregar suas flores, num holocausto bom e profundo, que aproxima a alma e o espírito até de quem está alucinado parado no trânsito, sendo multado porque está sem capacete, no banco do passageiro de um enorme SUV branco com teto solar aberto.

Tanto faz, no meio das quaresmeiras, uma espatódia dá as caras com suas flores vermelhas claras, quase laranjas, quebrando a sequência das quaresmeiras.

Pouco antes das quaresmeiras, os resedás enfeitaram São Paulo no começo do ano. Com menos árvores, comparar as duas floradas seria injusto com os resedás. Então, para ficar todo mundo bem, resedás e quaresmeiras dão seu show, cada um do seu jeito e no seu momento. Mas, no meio da florada dos resedás, lá estava ela. Impassível, imponente, ocupando seu espaço. As espatódias não deixaram barato e se esmeraram na florada, criando um contraponto para os resedás.

Quando eu era menino, as espatódias chamavam mija-mija. Árvores grandes, floriam entre o final e o começo do ano. E suas flores retinham água, o que nos permitia verdadeiras guerras, espremendo as flores dos mija-mijas e jogando longe sua água nos adversários.

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Mas o mundo perdeu muito da sua graça e, com o passar dos anos, brincadeiras como guerras de estilingue, usando as mamonas dos terrenos baldios, saíram de cena. As guerras com flores de mija-mija também se foram. Mas as árvores grandes e teimosas continuam aí, agora chamadas de espatódias, rindo contentes ao entrarem na marra na festa dos outros.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.