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As chuvas vão voltar

 

Não sei quanto tempo o coronavírus vai ficar por aqui, nem qual o grau de destruição que ele traz embutido. Mas tenho certeza de que as chuvas de verão voltarão, com a tranquilidade com que as nuvens se formam no céu e suas águas caem na terra.

Nós nos horrorizamos com as cenas apavorantes da destruição causada pelas chuvas, mas rapidamente nos esquecemos dela, no ritmo que uma nova tragédia acontece, seja um crime bárbaro, um incêndio numa favela, ou chuvas em outra região.

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As epidemias fazem parte de nossa rotina. A dengue e suas noventa mil notificações desde o começo do ano não deixa ninguém esquecer. E na cola da dengue, a chicungunha, transmitida pelo mesmo mosquito e a febre amarela, reforçam a certeza de que muita saúva e pouca saúde são os males do Brasil, como já dizia Macunaíma, quase um século atrás.

O coronavírus pode se tornar endêmico no país? Difícil dizer. Ainda se sabe muito pouco sobre ele para um prognóstico tão abrangente. Mas as chuvas de verão não são endêmicas, são parte natural do cenário do verão e uma parte cada vez mais presente, puxadas pelo aquecimento global e as mudanças meteorológicas que abalam o planeta.

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Tanto faz o que fizermos, nós vamos continuar ficando debaixo d’água nas mais variadas regiões do país. Nada que não acontece desde muito antes dos portugueses chegarem por aqui.

É assim porque é assim, faz parte do regime de chuvas do continente. O erro foi ocuparmos áreas imensas absolutamente impróprias para serem urbanizadas. Agora é tarde para consertar muita coisa, mas nunca é tarde para não deixar acontecer de novo o que nós sabemos que não dá certo. Mais do que nunca é hora de parar com demagogia e termos uma política de ocupação do solo que impeça a ocupação de áreas de risco.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.