Os quero-queros
O quero-quero é a ave símbolo dos pampas gaúchos. Ave das imensidões meridionais varadas pelos cavaleiros de bombachas, com suas facas de ponta e as cuias de chimarrão.
O Rio Grande do Sul é sua terra. É lá que tradicionalmente os quero-queros fazem a festa, na sua piação estridente, informando que o pedaço é deles e que é bom você não entrar.
Mas os quero-queros decidiram inovar e saíram rumo norte, como os gaúchos que, em 1930, depois de desabalada correria, acabaram amarrando seus cavalos numa praça em pleno centro do Rio de Janeiro.
Estava instalada a Revolução de 30 e Getúlio Vargas tomava o poder, só saindo em 1945, quando as tropas brasileiras voltaram da Segunda Guerra Mundial e o exército estava imbuído dos ideais democráticos que venceram o nazi-faxismo, tão caro ao ditador tupiniquim.
Os quero-queros migram no sentido contrário das migrações brasileiras. Enquanto, tradicionalmente, nossa população migra do nordeste para o sudeste, os quero-queros migaram do sul para o sudeste.
E se instalam nos campos da Cidade Universitária, mostrando que a sede de cultura não é exclusividade do ser humano. Ao contrário, aves, répteis e mamíferos dividem o espaço da antiga fazenda com a sem cerimônia de quem quer saber mais e paga o preço para isso.
A Cidade Universitária é rica, segura, tranquila e oferece condições ideias para os quero-queros procriarem. Por que botar os ovos nos campos arados pelos imensos tratores que cortam os pampas? Muito mais fácil o campus de uma Universidade, onde o respeito ao próximo deveria ser cânone, princípio fundante.
Os quero-queros não são bobos. Ocuparam os gramados da USP e não tem força que os faça sair de lá. Sair pra quê, se aqui está muito bom?
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