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A vez das quaresmeiras

Os ipês estão antenados. Sabem que o momento é delicado, que pode inclusive definir o que vai acontecer ao longo do ano. Se eles terão chance ou se, por mais que se esforcem, este ano será das quaresmeiras.

As quaresmeiras estão chegando. Junto com os ipês e as azaleias, são os três responsáveis pelas maiores floradas que enfeitam a cidade. Ao contrário dos ipês e das azaleias, as quaresmeiras têm a vantagem de correrem soltas. A época delas não tem outra grande florada dividindo o espaço.

Claro que as espatódias fazem barulho e os resedás entram de sola com suas flores delicadas e deslumbrantes, mas são esmagados pela quantidade de quaresmeiras, da mesma forma que as tropas britânicas foram sufocadas pelos Zulus, no século 19.

Contra o número, a não ser que você tenha uma portentosa linha de metralhadoras, não há muito o que fazer. As quaresmeiras são numerosas, estão espalhadas por toda a cidade e não estão sozinhas em cada canto. Não. Tem renque de quaresmeira, árvores plantadas uma ao lado da outra, em praças, ruas e jardins.

Elas sabem que o número faz diferença e sabem que são até mais numerosas do que os ipês. Onde elas perdem é que são uma só, enquanto os ipês são quatro, roxos, amarelos, rosas e brancos, o que lhes dá uma visibilidade mais longa no horizonte da cidade.

Para minimizar sua fraqueza, as quaresmeiras não chegam de uma vez só. Elas vão entrando em cena, uma aqui, duas ali, dez mais na frente. Em sequência, até o momento de caírem com tudo e tomarem a cidade de assalto, como as tropas russas em Berlim.

Como é briga de gente grande, as quaresmeiras sabem que é agora ou nunca. Então, vamos em frente que o jogo é de taça!

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.