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Os vilões dos tempos atuais

Símbolo de desbravadores há tempos atrás, agora os bandeirantes são perseguidos e até com estátua incendiada

A estátua em homenagem ao bandeirante Manuel de Borba Gato, nascido em 1649 na região onde está localizado o distrito de Santo Amaro, foi inaugurada em 1963 durante as comemorações do IV Centenário de Santo Amaro. No dia 24 de julho, cerca de 20 pessoas incendiaram a estátua. Pouco tempo depois, a autoria do ataque foi assumida pelo grupo Revolução Periférica. Inclusive, o ataque foi amplamente divulgado pelo grupo nas redes sociais, no seu perfil no Twitter, TikTok e no Instagram.

Símbolo de desbravadores e responsáveis pela expansão territorial brasileira, os bandeirantes ganharam esse status ao longo de cem anos. Tanto que alguns deles têm seus nomes colocados em monumentos, vias, rodovias, como é o caso de Fernão Dias, Anhanguera e Raposo Tavares, e até o Palácio do Governo Estadual de São Paulo se chama Palácio dos Bandeirantes.

Borba Gato nunca participou de uma bandeira de caça ao índio. A ele é atribuída a fundação da Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabarabussu, atual município mineiro de Sabará. Ele também participou de expedições no interior do País e foi uma das lideranças da Guerra dos Emboabas (1707-1709), entre outras façanhas. Para as suas expedições, os bandeirantes, também chamados de paulistas ou sertanistas, eram financiados por grandes comerciantes e donos de terras atrás de minérios.

Mas ao longo dos anos, monumentos em homenagem aos bandeirantes têm sido cada vez mais repudiados, associados à escravidão de índios e de negros. Há pelo menos dois projetos de lei tramitando na Assembleia Legislativa de São Paulo, propondo a retiradas desses monumentos em espaços públicos. Uma deles, de autoria da deputada Erica Malunguinho (PSOL), sugere a transferência das estátuas para museus estaduais.

Enquanto isso, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, já afirmou que a estátua do Borba Gato será restaurada. A iniciativa é de um empresário cuja identidade não foi divulgada. A discussão é até que ponto os símbolos que fazem parte da nossa história devem ser retirados de locais públicos e até esquecidos, ou se não é o caso de ensinar o que realmente aconteceu para que a história não se repita. Ou, teremos que mudar também os nomes de rodovias, do Palácio dos Bandeirantes e retirar o Monumento às Bandeiras, conhecido como empurra-empurra, entre outras referências aos bandeirantes.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.