Os ipês, as pitangueiras e as amoreiras
Setembro é um mês único na vida da cidade de São Paulo. É o mês em que as pitangueiras dão frutos e que as amoreiras ficam carregadas de frutinhas roxas, atraindo os passarinhos que fazem a festa em seus galhos.
Cada árvore cumpre seu ciclo ensimesmada, pensando na própria vida e em como perpetua-la. Todas, cada uma a sua maneira, se preocupam com o futuro, como se preocupam também com o passado e com sua herança genética e em preserva-la, para preservar a espécie.
As amoreiras e as pitangueiras têm sua carga de frutos em setembro, e ainda que pudessem concorrer umas com as outras, não o fazem, mas se completam, se enchendo de frutos numa competição saudável, onde quem ganha sou eu e os passarinhos.
Setembro também é o mês em que as paineiras recuperam sua folhagem e ficam de novo verdes, de um verde radiante, que é sua vingança para os meses de inverno, nos quais, ainda por cima, ficaram com os galhos nus, como esqueletos desesperados implorando a Deus o direito de entrar no céu.
Mas setembro ainda é mais. É o mês em que os ipês amarelos enfeitam a vida com o ouro de suas flores, abrindo para a imaginação a rota de todos os Eldorados.
Cada árvore anuncia sua boa nova, uma mensagem de esperança, que se confunde com a fartura das frutas de suas companheiras de ruas e quintais, de praças e de parques, numa orgia dificilmente encontrada em outro mês do ano.
Na sagração da primavera que explode sem aviso, nas cores das frutas e das flores, no cheiro de terra molhada e de vida que renasce, setembro é um mês bom. Um mês rico e farto que acena para a vida a perpetuação de todos os instantes.
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