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A tranqueira

 

Olinda, Santos, Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Natal e a Ilha de
Santa Catarina têm em comum os fortes erguidos pelos portugueses para
garantir sua defesa, numa época em que a posse da terra ainda não era
certa e os ataques de índios, navios de outras nações e piratas eram reais
e aconteciam regularmente ao longo do litoral brasileiro.

A Vila de São Paulo nunca teve forte ou fortaleza para sua defesa. O
máximo, em termos de proteção, foi a construção de uma tranqueira de
paus ao redor do minguado casario que compunha a vila em 1560.

A razão para isso não é difícil de ser entendida. A grande defesa de
São Paulo era a muralha intransponível, com quase mil metros de altura,
criada pela natureza.

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Para se atingir a Vila de São Paulo era necessário subir a Serra de
Paranapiacaba e isso só era possível se os paulistas não fechassem os
caminhos. Se no começo da colonização os portugueses encontraram o
caminho do Peabiru, com construção de qualidade comparável às estradas
europeias, depois da ordem do Governador Geral Tomé de Souza para
que ele fosse abandonado, só se chegava em São Paulo por trilhas
precárias, facilmente interditáveis, o que os paulistas faziam quando não
queriam que inclusive os portugueses chegassem na sua vila.

A única ameaça mais séria à Vila de São Paulo de Piratininga foram
os ataques dos índios, que se estenderam por alguns anos na segunda
metade do século 16, mas que acabaram rapidamente, diante da ação das
primeiras bandeiras, organizadas com apoio do padre José de Anchieta.

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Sem ameaça direta, não havia razão para construir fortalezas em
São Paulo. Além disso, com o desenvolvimento econômico do estado e o
medo do governo central da independência de seus habitantes, as tropas
aqui aquarteladas nunca estiveram entre as mais poderosas do país.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.