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Um dia

 

Um dia pode ser que aconteça, mas até lá será cedo e não acontecerá. A vida é assim, as coisas têm uma hora certa. Antes é cedo, depois é tarde. Estar no lugar certo, na hora certa é importante, dá sentido ao que tem que ser, facilita acontecer.

Mas nem sempre funciona. Muitas vezes estamos no lugar errado, na hora errada e aí pode pegar, pode ficar complicado, baixar o santo ou coisa dessa ordem.

Ninguém sabe o que vem do outro lado do túnel. A luz pode ser o farol da locomotiva que vai passar em cima de você.

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É por isso que o gaúcho matou o trem quando ele ainda era pequeno. Ele vinha com sua boiada, quando encontrou os trilhos e achou confortável colocar o gado entre eles. Relaxou e tocou em frente, até chegar perto de um túnel de onde saiu o trem que atropelou a boiada e feriu o gaúcho.

Quando ele saiu do hospital, andando pela rua da Praia, em Porto Alegre, passou em frente de uma loja de brinquedos e viu um trem elétrico na vitrine. O gaúcho não pensou duas vezes. Sacou o 38 e meteu bala no trenzinho. Quando a polícia chegou ele explicou: “Esse bicho a gente mata quando é pequeno. Depois que cresce ninguém pode com ele”.

A vida é assim, tem trem e trem. Alguns a gente toma e segue em frente até depois do horizonte, outros vem na contramão e passam em cima de nós com a sem cerimônia do trem do gaúcho.

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Por isso, um dia pode ser que aconteça. Vai ser bom como comer torta de maçã com sorvete de baunilha, mas isso vai ser um dia, depois do quem sabe, depois de todos os depois, quando o sol bilhar à meia noite e a vida passar de trás pra frente, como carretel de filme rebobinando a fita.

Até lá, a esperança é a última que morre. Não perca a fé. Tudo depende de tanta coisa que, de repente, até acontece…

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

 

 

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.