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Um erro de data

O poeta Paulo Bomfim morreu no dia sete de julho de 2019. Por um erro de conta, na crônica que eu gravei para homenagear a data eu falei que fazia quatro anos que poeta tinha partido dessa vida para galopar pelos campos da Fazenda Himalaia que existe no céu.

De verdade faz três anos que ele saiu de cena deixando vazia a cadeira com braços de madeira do apartamento da Peixoto Gomide.

Por que eu errei? Porque sou humano. Porque a falta do poeta é muito grande. Porque é assim que as coisas giram e a vida segue, viva nas lembranças, no som do seu riso, na forma como ele me chamava de Nico.

Paulo Bomfim partiu na hora certa. Ele não gostaria de ver o Brasil de hoje, nem ter passado pela pandemia. Seria doído demais. O poeta ficaria arrasado com a morte de amigos levados pelo coronavírus. E teria vergonha da vergonha por que passam os brasileiros.

Ele aceitava a morte como parte do caminho, como uma etapa inevitável. Depois de nascer, crescer, correr pelo mundo, bater no muro, levantar e começar de novo, o fim da história é a morte. Ou a passagem é a morte. Porque os poetas não morrem, ficam nas palavras de seus versos. E vão para o céu dos poetas e brincam com a eternidade, vivendo os sonhos que tinham nesta vida.

Paulo Bomfim não temia a morte, tinha pudor do sofrimento, e não queria perder a dignidade. A morte fazia parte da vida. Em certos dias mais melancólicos, ele me dizia com todas as letras que na idade em que estava, morrer poderia ser uma viagem interessante.

Enfim, há três anos ele partiu, saiu de cena, foi encontrar os antepassados que não voltaram do sertão, o bisavô fundador de ferrovias, o avô fundador de cidades, seu país, a Emmy e o Pupá. Foi encontrar os amigos e conversar gostoso nas tardes da eternidade. Aqui ficou a saudade.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.