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Zuza homem de mello

 

Diz a voz do povo que para morrer basta estar vivo. É verdade, até porque a alternativa é impossível. Quem está morto não morre de novo, exceto Quincas Berro D’água, herói das ladeiras de Salvador, boêmio com conto de Jorge Amado, narrando suas duas mortes.

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Mas Quincas não conta. Os mortais morrem uma vez só e é aí que a morte varia de padrão. Tem morte mais amiga, morte menos amiga, morte com sofrimento, morte sem sofrimento. Morte heroica, morte menos heroica. É uma longa sequência de possibilidades, todas únicas porque ninguém morre da mesma forma que o outro.

Também não tem explicação de porquê um morre sem sofrimento e outro morre sofrendo. Para mim, Deus é amigo de quem morre sem perceber, quem morre rápido ou, como diz o caipira, “acordou morto”.

A melhor morte é a do cidadão que acorda morto. Vai pra cama, fecha os olhos, dorme e não acorda mais. Sai de cena durante o sono, sem sofrimento, sem perceber.

Foi assim que Zuza Homem de Mello morreu. Foi dormir e não acordou. Com certeza Deus era amigo dele. Por isso, agora o céu está mais alegre. Deus gosta de ter seus amigos com ele e a chegada do Zuza no Paraíso vai esquentar as rodas de boa música, da mais antiga à mais moderna.

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Zuza Homem de Mello conhecia música como poucos, aqui ou em qualquer parte do mundo. E, apesar de ser genial e um conhecedor internacionalmente reconhecido, não tinha frescura. Era otimista, alegre, educado, atencioso e amigo. Não fazia distinção de gênero, raça, time de futebol ou partido político. Para ele o que valia era o talento e o profissionalismo. Fosse compositor, cantor ou músico, sendo bom no que fazia, o resto não era problema dele. Zuza aplaudia, como aplaudia a vida.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.